

Bárbara Freitas, coordenadora técnica do Voleibol no Boavista Futebol Clube
No panorama desportivo nacional, o Boavista Futebol Clube tem sido uma referência incontornável em várias modalidades, e o voleibol não é exceção. Com uma tradição sólida e um trabalho contínuo na formação e no desenvolvimento de atletas, o clube tem vindo a reforçar a sua aposta nesta modalidade.
No centro desta dinâmica está Bárbara Freitas, a atual coordenadora técnica do voleibol do Boavista FC, que tem desempenhado um papel fundamental na consolidação do projeto e na criação de uma estrutura sólida, assente na competência técnica, na formação humana e na ambição competitiva.
Nesta entrevista, ficamos a conhecer melhor o percurso de Bárbara Freitas, a sua visão sobre o voleibol no clube e no país, os desafios de gerir e formar atletas jovens, e as metas que se traçam para o futuro desta modalidade no nosso Clube.
1. Como começou o seu percurso no voleibol e o que a motivou a seguir esta modalidade?
Eu comecei a jogar voleibol com 12 anos no Ginásio Clube Vilacondense, onde permaneci até ao escalão sénior e onde também tive a minha primeira experiência como treinadora. Antes disso, experimentei várias modalidades, quase todas individuais. Um dia, eu e uma amiga decidimos experimentar desportos diferentes e começamos pelo voleibol, mas, depois do primeiro treino, percebi logo que era aquilo que queria continuar a fazer e não experimentei mais nada. Aos 15 anos comecei também a praticar voleibol de praia, modalidade que continuo a jogar todos os verões no campeonato nacional.
2. Que momentos guarda da sua experiência como jogadora?
Eu guardo com carinho vários momentos marcantes, desde treinar e jogar em escalões acima durante a formação, fazer parte de uma equipa sénior na subida da 3.ª Divisão até à 1.ª Divisão e disputar uma Final Four da Taça de Portugal numa equipa da 2.ª Divisão Nacional. No voleibol de praia, guardo o momento em que fui convocada para a seleção nacional, as memórias de quando participai em competições internacionais e, também, quando fui campeã nacional de sub20. Todas estas vivências moldaram a minha forma de ver o voleibol e de o ensinar, isto é, com exigência, mas sempre com paixão e espírito de equipa.
3. O que a levou a dedicar-se à vertente da formação e coordenação?
Sempre senti que tinha características que me permitiam contribuir para o crescimento coletivo e não apenas individual das equipas que eu treino. Acredito na importância de construir um projeto formativo sólido, baseado no trabalho de equipa entre treinadores, na articulação entre escalões e na criação de uma identidade comum. Assumir a coordenação foi um passo desafiante mas consciente, pois quero ajudar a melhorar não só as minhas equipas enquanto treinadora, mas toda a estrutura da formação do clube.
4. Quais são os principais objetivos que definiu para a formação de voleibol do Boavista FC?
A curto prazo, queremos manter as atletas e paulatinamente crescer no número de praticantes da modalidade, especialmente nos escalões mais jovens, como o minivoleibol, de forma a podermos continuar a promoção do voleibol do Boavista FC dentro e fora do clube. A médio prazo, pretendemos elevar o nível competitivo das equipas e aumentar a presença em campeonatos nacionais. A longo prazo, o nosso grande objetivo é formar atletas com capacidade para integrar a equipa sénior, reduzindo a necessidade de contratações externas. Por fim, dizer que seria também um marco importante na modalidade, conseguir que todos os escalões da formação disputem a Divisão A.
5. Como caracteriza o projeto formativo do clube em comparação com outros clubes nacionais?
O projeto do Boavista distingue-se pela sua identidade e história. Fazemos parte de um clube com uma marca muito forte no panorama desportivo nacional, apesar de todas as adversidades que se possam atravessar no caminho, o que traz um sentimento de pertença muito próprio às nossas atletas. Apostamos numa formação que privilegia a dedicação, o espírito de equipa, a resiliência e a paixão pela modalidade. Procuramos, ainda, trabalhar com seriedade e proximidade, promovendo uma formação integral que vai além das quatro linhas do campo.
6. Que valores procura transmitir diariamente às atletas que orienta?
Para além dos aspetos técnicos e táticos do jogo, transmitimos valores como o compromisso, o respeito, a entreajuda, a responsabilidade, o trabalho em equipa e a superação pessoal. Queremos formar boas atletas, mas acima de tudo boas pessoas. Incentivamos a autonomia, a liderança e a capacidade de lidar com vitórias e derrotas com maturidade.
7. Como é feita a captação e integração de novos talentos no clube?
Realizamos treinos abertos e sessões de captação no final e durante a época, especialmente no minivoleibol. Promovemos dinâmicas como o “treino do amigo” e fazemos ações de divulgação em escolas. Recentemente, visitámos várias escolas básicas para apresentar o projeto do Boavista FC e demonstrar a modalidade aos mais jovens. Além disso, recebemos frequentemente contactos espontâneos de atletas interessadas em experimentar, as quais procuramos sempre acolher e integrar da melhor forma possível, respeitando a realidade de cada escalão.
8. Quais são as maiores dificuldades que identifica atualmente no voleibol de formação em Portugal?
Atualmente, notamos uma crescente necessidade de apoio emocional por parte das atletas, refletida em casos cada vez mais frequentes de ansiedade, desmotivação e dificuldade na gestão das emoções. Neste cenário, o papel dos treinadores, coordenação e direção do clube torna-se ainda mais abrangente. Para além de ensinarmos voleibol, procuramos ser uma rede de apoio, em articulação com as famílias, promovendo um ambiente seguro, empático e motivador.
9. De que forma o Boavista FC acompanha não só o desenvolvimento técnico das atletas, mas também o lado académico e humano?
Temos contacto direto e frequente com as famílias, através de reuniões no início e fim da época e sempre que necessário durante a mesma. Mantemos uma comunicação próxima, seja nos treinos, jogos ou por telefone. Incentivamos as atletas a conciliarem os estudos com o desporto e os treinadores estão atentos ao rendimento escolar, ajudando-as a organizarem-se para que consigam manter ambos os compromissos.
10. Como avalia a evolução das equipas jovens do Boavista nos últimos anos?
Temos assistido a uma evolução consistente. Algumas equipas já disputam campeonatos nacionais e há atletas da formação a serem chamadas para treinos de seleção nacional. Tecnicamente, vemos jovens atletas a integrarem treinos da equipa sénior, o que demonstra o crescimento individual e coletivo. A nível de compromisso, a assiduidade aos treinos é muito elevada, o que também reflete o envolvimento e motivação das jogadoras.
11. Como é gerida a articulação entre treinadores, direção e restantes departamentos do clube?
A articulação é feita de forma constante e próxima. Existe uma comunicação diária, presencial e por telefone, seja em grupo ou individualmente, durante treinos, jogos e também em reuniões. É muito valorizado o contributo de todos os envolvidos, sendo ouvidas frequentemente as suas sugestões e ideias, dado que procuramos sempre trabalhar como equipa.
12. Que papel têm as famílias das atletas no sucesso da formação desportiva?
As famílias têm um papel fundamental. São elas que asseguram a presença das atletas nos treinos e jogos e são envolvidas em vários momentos da vida do clube. Organizamos treinos com pais e familiares e procuramos que se sintam parte ativa do processo formativo. O apoio familiar é um dos pilares para o sucesso das atletas.
13. Quais são as suas maiores ambições para o futuro do voleibol no Boavista?
Ambiciono ver todas as equipas da formação a competir na divisão A, conquistar títulos nacionais e, sobretudo, voltar a ver a equipa sénior na primeira divisão nacional, um objetivo que gostaria de concretizar ainda enquanto atleta. Gostava também de ver a secção com uma estrutura ainda mais sólida para continuar a crescer, isto é, com mais equipas, mais atletas e recursos.
14. Acha que o voleibol português tem condições para crescer e alcançar maior reconhecimento internacional?
Acredito que sim. O talento existe, os treinadores são cada vez mais qualificados e o número de praticantes tem aumentado. No entanto, faltam mais apoios, maior visibilidade mediática e uma estrutura mais profissionalizada para dar continuidade ao crescimento. Com mais investimento e valorização da modalidade, o voleibol português pode alcançar um patamar mais elevado.
15. Que mensagem gostaria de deixar às jovens atletas que sonham singrar nesta modalidade?
Aproveitem tudo o que o voleibol tem para vos dar, não só dentro de campo, mas também na vida. O voleibol ensina-nos a trabalhar em equipa, a liderar, a lidar com a frustração, a respeitar o outro e a superar-nos diariamente. Ensina-nos a importância do treino, do compromisso e da persistência necessária para alcançarmos os nossos sonhos e objetivos. Com o voleibol criamos amizades para a vida e construímos memórias que nos acompanharão para sempre. Por isso, acreditem, deem sempre o vosso melhor e nunca deixem de sonhar.
Obrigado Bárbara Freitas
Vamos Pantera!