Reymão representará, hoje às 18h00, o Boavista no FIFA frente ao SC Braga. Aproveitámos a oportunidade para conhecermos melhor o nosso médio de 21 anos.
Como tem sido o teu percurso no mundo do futebol?
Desde que comecei a andar, tinha uma bola de futebol comigo. Comecei na equipa da minha escola e aos 10 anos fui para o Sporting.
Em 2010 fui viver para Londres com a minha família e nesses dois anos estive no Chelsea. Já aí tive que me desenrascar sozinho pois tinha de apanhar dois comboios para ir treinar (treinava fora de Londres). Ganhei um carinho especial pelo clube mas era bastante introvertido então não fiquei com muitos amigos dessa altura. Espero um dia encontrá-los novamente para falarmos dessa altura e reviver alguns momentos.
Regressaste ao Reino Unido, aí já com 19 anos, para o Wolverhampton. Como foi essa experiência?
Já estava habituado a viver sozinho, na época anterior tinha estado a viver em Florença. A adaptação foi fácil. Havia muitos portugueses e era muito próximo do Pedro Gonçalves e Boubacar , o que facilitou a integração. É uma cidade pequena, que vive muito em torno do futebol. O balneário era muito bom, convivíamos todos muito.
E na Fiorentina, a adaptação também tinha sido fácil?
Sim, o grupo era incrível, tanto no lado humano como em talento. Comecei na Primavera e em dezembro fui chamado para a equipa principal – na altura era o Paulo Sousa o treinador – e treinava com eles todos os dias.
Esta experiência marcou-me profundamente tanto a nível futebolístico como humano. Um ano de grande aprendizagem. Primeira vez a morar sozinho e fora do país. Numa cidade única onde fiz amigos para a vida que me ajudaram muito e não esqueço.
Entrei numa equipa repleta de jogadores de topo em que as suas qualidades humanas sobrepunham-se às qualidades futebolistas e quando assim é as coisas tornam se mais fáceis . Era um plantel com muita qualidade com nomes que dispensam qualquer tipo de apresentação. Astori, Bernardeschi, Babacar, Gonzalo Rodrigues, de Maio, Salcedo, Vecino, Cristóforo ou Borja Valero são apenas alguns dos que faziam parte do plantel e, cada um à sua maneira, uns por uma razão outros por outra, marcaram-me. Mas nunca me senti intimidado pois todos me receberam muito bem e senti-me parte do grupo desde o início. O facto de ter tido aulas de italiano também foi fundamental para poder comunicar com toda a gente, quase ninguém falava inglês.
Foi sem dúvida um ano em que vivi momentos únicos num clube histórico de Itália com uns “tifosi” apaixonados.
Tens 21 anos mas já jogaste em 3 países. Identificas grandes diferenças de balneário? Ou as diferenças culturais dissipam-se no meio do futebol?
Há uma linguagem comum, a do futebol. Contudo, há sempre pequenas diferenças nos hábitos, tradições e princípios.
Por exemplo, em Itália, toda a gente comunicava em italiano. Era um elemento agregador, ninguém ficava excluído, bastava adaptarmo-nos.
Em Inglaterra, apesar de haver muitos portugueses, fazíamos questão de conviver com toda a gente também.
Como caracterizas o teu trajeto no Boavista ?
Sem dúvida alguma, é um grande orgulho representar um clube histórico como o Boavista.
É um clube com um carisma especial que dispensa grandes apresentações.
Lembro-me perfeitamente de quando surgiu esta oportunidade, desde logo que a minha preferência foi o Boavista, sem saber sequer quem era o treinador . Foi “Vamos!” .
A vontade é imensa, mas sabemos que não é de um dia para o outro que as coisas se constroem mas sim com persistência, muito trabalho e acima de tudo muita união.
O Boavista voltará a ser aquilo que nós todos ambicionamos. O campeonato português também precisa disso.
É um clube que desde o primeiro dia me fez sentir parte da família e o que mais quero é poder retribuir tudo isso.
Tenho de olhar para tudo o que passei e tornar isso em forças para crescer e ajudar, juntamente com todos, o Boavista a atingir coisas boas.
Como tens vivido este período de quarentena?
Comecei a acompanhar este flagelo quando espoletou em Itália, pois ainda tenho uma grande ligação e amigos lá. Fui acompanhando e sofrendo por eles antes do vírus chegar a Portugal. Agora, só podemos ficar em casa enquanto os profissionais de saúde dão o seu melhor.
No meio deste caos, talvez devêssemos retirar alguma lição daqui. Valorizarmos as coisas mais singelas que dávamos como garantidas e desvalorizarmos as pequenas quezílias que, às vezes, alimentamos e que, no fundo, não interessam para nada.