Desporto Adaptado | Pedro Gonçalves, um Campeão com Dedicação, Talento e Fair Play

O Boavista Futebol Clube reafirma o seu compromisso com o desporto inclusivo e adaptado, promovendo oportunidades para todos os atletas, independentemente das suas capacidades físicas. Neste contexto, destaca-se Pedro Gonçalves, atleta de Polybat do Departamento de Desporto Adaptado, que recentemente conquistou o tricampeonato nacional, reafirmando a sua excelência desportiva e a força da comunidade axadrezada.

A modalidade de Polybat, ainda pouco conhecida do grande público, exige concentração, precisão e grande destreza técnica, especialmente para atletas da classe PB3, como Pedro, que compete com dificuldades de locomoção, recorrendo a apoios durante o jogo. Ao longo da sua carreira, Pedro tem demonstrado não apenas talento e dedicação, mas também uma postura exemplar de fair play, tornando-se um verdadeiro modelo para todos os praticantes do desporto adaptado.

Nesta entrevista, Pedro partilha as suas experiências, os desafios superados, os métodos de preparação e a motivação que o leva a representar o Boavista Futebol Clube ao mais alto nível, oferecendo uma visão inspiradora do percurso de um atleta de elite no desporto adaptado.

  1.  Como descreves o sentimento de conquistares o tricampeonato nacional de Polybat?

É algo que me enche de orgulho. Por saber que mais uma vez, consegui colocar o Boavista Futebol Clube no ponto mais alto do pódio.

  1. Ao longo destes três títulos consecutivos, qual consideras ter sido o momento mais marcante?

Todos foram marcantes, cada um à sua maneira. No entanto este último acabou por ser mais especial. Sim, por ser o mais recente, mas também pelo momento menos positivo que o clube atravessa. É bom saber que damos uma alegria ao nosso Clube e a toda Comunidade Axadrezada nestes tempos mais difíceis.

  1. Que desafios enfrentaste nesta edição do Campeonato Nacional comparado com as anteriores?

Os meus adversários têm subido o seu nível competitivo a cada edição. O número de praticantes também tem aumentado de ano para ano. Esta foi a terceira edição do Campeonato Nacional e a dificuldade foi muito superior quando comparado com as edições anteriores de 2023 e 2024.

  1. Como te preparaste durante a época para alcançar este objetivo? Houve algo diferente na preparação para 2025?

A cada ano tentamos melhorar aquilo em que não somos tão fortes. Estudar também os pontos menos fortes dos nossos adversários, de forma que consigamos alcançar a vitória.

  1. O Polybat exige muita concentração e precisão. Que aspetos técnicos consideras fundamentais na modalidade?

Antes de falar dos aspetos fundamentais, gostaria de explicar que no Polybat existem quatro classes de competição: PB1, PB2, PB3 e PB4. Eu faço parte da classe PB3, destinada a atletas com dificuldades de locomoção, que jogam com apoios de marcha ou apoiados na mesa de jogo (é o meu caso), mas que ainda assim conseguem ser rápidos e executar os movimentos de jogo com destreza. Na minha classe competitiva, temos de ser rápidos na defesa e no ataque e ter sempre a certeza de que jogamos sempre à tabela.

  1.  Em que áreas sentes que mais evoluíste desde o teu primeiro título em 2023?

Eu acredito que evoluí muito mais no aspeto defensivo. Atualmente, concedo muito menos pontos aos meus adversários do que no início das minhas participações.

  1. Como é competir ao mais alto nível numa modalidade adaptada ainda pouco conhecida do grande público?

É verdade que não ouvimos falar muito sobre o Polybat, mas a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD) tem feito um excelente trabalho na divulgação da modalidade, de norte a sul do país. Também na organização do Campeonato Nacional, que melhora a cada edição. A prova disso é o aumento do número de praticantes e a subida do nível competitivo. Competir no Polybat tem sido excelente. É uma modalidade em que eu me sinto um verdadeiro atleta. Sempre com o pensamento na vitória e sempre com o objetivo de alcançar o ponto mais alto do pódio, com o nosso símbolo preto e branco axadrezado ao peito.

  1. Que papel teve o Departamento de Desporto Adaptado nesta conquista?

Felizmente, somos bastante unidos no Departamento de Desporto Adaptado. Os meus companheiros fazem questão de comparecer aos torneios de qualificação e até no Campeonato Nacional. Todos fazem questão de acompanhar o meu desempenho e ficam felizes quando consigo estes resultados. O meu sucesso é o sucesso do Departamento de Desporto Adaptado e o sucesso da seção é o sucesso do nosso Clube.

  1. O Boavista FC é conhecido pela sua garra. De que forma o apoio do Clube e da Comunidade Axadrezada te motiva?

É muito bom saber que o Departamento de Desporto Adaptado não é apenas mais um nome na lista de modalidades do Boavista Futebol Clube. Eu fico feliz por ver a comunidade Boavisteira a desejar-me boa sorte antes de uma competição e a vibrar com as minhas vitórias. As minhas conquistas são as conquistas do Boavista Futebol Clube, o meu Clube. É por isso que eu faço estas competições: para ter a oportunidade de dar alegrias aos nossos adeptos.

  1. Há algum adversário ou jogo específico deste campeonato que tenha sido particularmente difícil?

Este ano, o jogo da final foi particularmente complicado. A principal dificuldade, esteve relacionada com o meu desconhecimento técnico sobre o adversário que eu não tive oportunidade de avaliar, mas também pelo momento menos bom do Clube. Eu n final acabei por sentir que tinha a obrigação de fazer ainda mais do que nos anos anteriores, para trazer esta conquista para o nosso Estádio do Bessa.

  1. O que te passa pela cabeça quando entras numa competição com a pressão de defender títulos anteriores?

A pressão existe sempre. Eu mesmo coloco essa pressão em cima de mim. Entrei no Boavista Futebol Clube aproximadamente em 2010, apoiado numa canadiana, sem conseguir dar dois passos sozinho, pensando que nunca faria desporto. Por isso mesmo, tenho um sentimento muito grande de gratidão para com o clube e pelas pessoas que me ajudaram a chegar aqui. Conseguir estas conquistas, é a minha forma de retribuir ao Clube tudo aquilo que tem feito por mim ao longo destes anos.

  1.  Para quem não conhece, o que gostarias de explicar sobre o Polybat e sobre as suas regras principais?

Como expliquei anteriormente, o Polybat tem 4 classes de competição: PB1, PB2, PB3 e PB4. No PB1 competem os atletas com mais limitações, normalmente as pessoas em cadeira de rodas. No PB4, competem os atletas menos limitados fisicamente, normalmente as pessoas com deficiência intelectual. Eu faço parte da Classe PB3, destinada a atletas com dificuldades de locomoção, que podem necessitar de apoios de marcha ou de jogar apoiados na mesa de jogo, mas que ainda assim conseguem ser rápidos na execução dos movimentos de jogo, a toda a largura da mesa. Podemos tocar a bola com o bastão até um máximo de 3 vezes. O toque que damos na bola para o outro lado tem de ser atrás de uma linha específica, desenhada na mesa e temos sempre de jogar à tabela.

  1. Como vês o futuro da modalidade em Portugal? Acreditas que o Polybat tem potencial para crescer?

Acredito que o Polybat tem tudo para continuar a crescer. Houve um aumento significativo do número de praticantes, em todas as classes de competição. É cada vez mais difícil vencer um jogo, a qualidade dos adversários é cada vez maior.

  1. Quais são os teus próximos objetivos pessoais e desportivos depois deste tricampeonato?

Os objetivos são sempre os mesmos: tentar ganhar os torneios de qualificação regional, apurar-me para o Campeonato Nacional e depois tentar alcançar o título de campeão. Além disso, caso um dia a FPDD decida criar uma seleção nacional de Polybat, gostaria de estar presente a defender as cores nacionais.

  1. Que mensagem deixas aos jovens atletas do desporto adaptado que sonham alcançar resultados como os teus?

A mensagem que eu posso deixar é que busquem uma modalidade onde se sintam verdadeiros atletas, onde esqueçam até que têm uma deficiência e acima de tudo, onde se sintam bem durante a prática dessa modalidade. Isso é o mais importante. O resto vem por acréscimo.

A prestação de Pedro Gonçalves no tricampeonato nacional de Polybat evidencia não apenas a sua capacidade competitiva e técnica, mas também a sua determinação, disciplina e resiliência. Mais do que os títulos, destaca-se a forma como Pedro representa os valores do Boavista Futebol Clube, promovendo o fair play, a solidariedade e o respeito pelos adversários, seja dentro ou fora das competições.

O seu percurso serve de exemplo inspirador para jovens atletas e para toda a comunidade desportiva, demonstrando que o sucesso se constrói com esforço, dedicação e espírito desportivo. Pedro Gonçalves é, sem dúvida, um orgulho para o Boavista Futebol Clube e um embaixador da modalidade de Polybat em Portugal.

Obrigado, Pedro Gonçalves

Vamos, Boavista Futebol Clube!

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