

Nuno Moreira, coordenador técnico da Esgrima no Boavista Futebol Clube
O Boavista Futebol Clube, conhecido pela sua forte tradição no desporto português, tem vindo a afirmar-se nos últimos anos como uma referência também na esgrima, relançada em 2018, é um exemplo claro desse espírito eclético, construindo um projeto sólido, competitivo e formativo.
Nesta entrevista, Nuno Moreira, coordenador técnico da Esgrima no Boavista FC, partilha a evolução do projeto, os desafios superados e a visão que sustenta esta aposta diferenciadora na modalidade do sabre. Fala-nos do crescimento da secção, dos títulos alcançados, mas, sobretudo, da missão educativa e humana que o clube promove através da esgrima.
Uma conversa que reflete não apenas o sucesso desportivo, mas também a importância de formar atletas e cidadãos conscientes, respeitadores e resilientes, valores que estão bem enraizados no ADN Axadrezado.
- Como descreveria a evolução da secção de esgrima do Boavista FC desde o seu relançamento em 2018 até hoje?
A evolução da secção de esgrima do Boavista FC, tem sido verdadeiramente notável. Começámos com uma estrutura modesta, mas com uma ideia muito clara: criar um projeto sólido, assente na formação, com identidade própria e ambição competitiva. Desde 2018, conseguimos não só aumentar o número de praticantes, como também colocar o clube entre os mais medalhados a nível nacional. Hoje, temos atletas em vários escalões, desde os mais jovens aos seniores, com títulos nacionais individuais e coletivos, algo impensável há poucos anos atrás..
- Quais foram os maiores desafios que enfrentou para consolidar a modalidade dentro de um clube tradicionalmente mais ligado ao futebol?
O principal desafio foi precisamente esse: dar visibilidade a uma modalidade que não tem o mesmo mediatismo do futebol. Felizmente, o Boavista é um clube eclético, com tradição em várias modalidades, e isso abriu-nos portas. A cultura de exigência do clube obrigou-nos a trabalhar com seriedade desde o primeiro dia. Outro obstáculo importante foi a gestão de recursos humanos, logísticos e financeiros para garantir que os atletas tinham as condições mínimas de treino e competição, mas com persistência, paixão e resultados, fomos conquistando o nosso espaço.
- O Boavista tem apostado sobretudo no sabre, uma arma pouco comum em Portugal. Porquê essa aposta e que vantagens tem trazido?
A aposta no sabre surgiu de forma natural, por afinidade técnica e por estratégia. O sabre é uma arma mais explosiva, dinâmica e com características que exigem rapidez, leitura de jogo e intensidade, o que nos permitiu criar uma identidade diferenciadora. Sendo menos comum em Portugal, sentimos também que havia espaço para crescer e marcar uma posição. Os resultados comprovam que essa foi uma aposta certeira, com campeões nacionais formados internamente e reconhecimento dentro da comunidade da esgrima.
- Como tem sido a recetividade dos jovens e das famílias à prática da esgrima no clube?
Muito positiva. A esgrima continua a ser uma novidade para muitas famílias, mas quem experimenta percebe rapidamente o valor da modalidade. Os pais reconhecem na esgrima uma ferramenta educativa muito forte que promove o respeito, a disciplina, o foco e o autocontrolo. Os jovens identificam-se com o lado desafiante e até heróico do desporto. Temos crescido muito por recomendação direta entre famílias, o que mostra que quem chega sente que está num ambiente saudável, seguro e motivador.
- Quais foram, na sua opinião, os momentos mais marcantes da secção nestes últimos anos?
Há muitos, felizmente. Desde as primeiras medalhas nacionais, que nos deram confiança, até às vitórias mais recentes. Mas destacaria alguns momentos especiais:
- O título de Campeão Nacional de Seniores em Sabre Masculino conquistado pelo Gonçalo Monteiro, que nos coloca no topo da modalidade;
- Os títulos coletivos em Cadetes e Juniores, que demonstram a profundidade e consistência da formação;
- Cartão Branco de Fair Play atribuído ao Matias Moreira, que simboliza o nosso compromisso com os valores do desporto, mais do que apenas o sucesso competitivo.
- Que tipo de perfil procuram ou pretendem desenvolver nos jovens atletas que iniciam a prática de esgrima no Boavista?
No Boavista procuramos formar atletas completos e não apenas bons tecnicamente, mas sobretudo responsáveis, resilientes e com espírito de equipa. A esgrima exige inteligência emocional, leitura tática e respeito pelas regras e pelo adversário, por isso valorizamos muito o comportamento, a atitude e a evolução pessoal. Procuramos jovens com vontade de aprender, de se superar e de respeitar os outros. Mais do que procurar talentos prontos, gostamos de formar campeões a longo prazo, dentro e fora da pista, enquadrados com os valores do Boavista.
- De que forma a esgrima contribui, na sua perspetiva, para o desenvolvimento pessoal e académico dos jovens atletas?
A esgrima desenvolve foco, controlo emocional, disciplina e responsabilidade. Muitos dos nossos atletas são excelentes alunos e reconhecem essa mais-valia. A esgrima é uma escola de vida. Desenvolve capacidades como o foco, a tomada de decisão rápida, o autocontrolo e a responsabilidade individual. Muitos dos nossos atletas são excelentes alunos e reconhecem que o desporto os ajuda a organizar-se melhor e a lidar com a pressão. A esgrima ensina a ganhar com humildade e a perder com dignidade, uma lição essencial que levamos para a vida. Vemos com orgulho que os nossos jovens crescem como atletas, mas também como pessoas conscientes e equilibradas.
- Como é organizado o trabalho técnico e de formação no clube? Há um modelo próprio ou seguem orientações mais internacionais?
Seguimos uma abordagem própria, mas alinhada com modelos de referência internacionais. Apostamos num equilíbrio entre a base técnica sólida e a aplicação prática em contexto competitivo. Trabalhamos muito o detalhe técnico e tático, mas também as rotinas físicas e a preparação psicológica. Temos uma calendarização pensada por escalões, que respeita os ritmos de crescimento de cada atleta. É um modelo progressivo, adaptado ao sabre, com influência de escolas como a húngara e a italiana, mas com identidade própria.
- Os resultados competitivos do clube, com títulos nacionais em vários escalões, superaram as expectativas ou eram um objetivo claro desde o início?
Desde o início sabíamos que era possível construir algo sólido, mas a verdade é que os resultados têm superado as expectativas. Em poucos anos alcançámos títulos nacionais em todos os escalões, tanto individuais como por equipas, e isso não é comum. Estes resultados não foram obra do acaso: houve planeamento, trabalho árduo e uma cultura muito forte de superação. Mas confesso que a maturidade competitiva que os atletas demonstraram tão cedo surpreendeu até quem os acompanha de perto.
- Que balanço faz da evolução dos atletas mais jovens no clube, não só em termos desportivos, mas também na maturidade e compromisso com a modalidade?
É um dos aspetos que mais nos orgulha. Os nossos jovens atletas cresceram imenso, não apenas em resultados, mas na forma como se comportam, treinam e competem. Muitos deles começaram connosco com 8 ou 9 anos e hoje são atletas com títulos e uma postura exemplar. O compromisso que demonstram com o clube, com os colegas e com a modalidade é admirável. Sentimos que temos um grupo muito unido, com valores fortes e que representa o Boavista com grande dignidade.
- Quais são os objetivos da secção de esgrima do Boavista para as próximas épocas, quer a nível nacional, quer em torneios internacionais?
A nível nacional, queremos consolidar o nosso lugar como clube de topo, manter a formação forte nos escalões mais jovens e continuar a vencer títulos. A nível internacional, o grande objetivo é aumentar a presença dos nossos atletas em provas do Circuito Europeu e do Circuito Mundial de Cadetes e Juniores. Já temos um grupo com capacidade para competir lá fora, mas precisamos de apoios que nos permitam ultrapassar as limitações financeiras e garantir essa experiência. Um dos grandes marcos que temos em vista é a participação no Campeonato do Mundo de Sabre, que se realiza no Rio de Janeiro, em abril de 2026.
- Acredita que o Boavista pode tornar-se uma referência nacional na esgrima, como já é noutras modalidades?
Acredito plenamente. Aliás, em muitos aspetos já somos uma referência, não só pelos títulos conquistados, mas também pela forma como estruturamos a formação e promovemos valores desportivos. O Boavista tem uma história rica no desporto e um nome que impõe respeito. O nosso desafio é continuar a crescer de forma sustentada, criar melhores condições de treino e captar mais jovens. Se mantivermos esta trajetória, o clube pode vir a ser uma das grandes forças da esgrima nacional.
- Como vê o futuro da esgrima em Portugal? A modalidade está a crescer ou ainda enfrenta demasiadas barreiras culturais e estruturais?
A esgrima está a crescer, mas enfrenta ainda muitas barreiras, sobretudo ao nível do desconhecimento da modalidade e da falta de investimento. Falta comunicação, falta espaço nos media, e faltam condições em muitas regiões para a prática regular. Mas vemos sinais positivos, porque existem mais clubes a surgir, mais jovens a iniciarem-se e um ambiente mais dinâmico a nível federativo. O trabalho dos clubes, como o que tem sido desenvolvido no Boavista, é essencial para que esta mudança aconteça. Acredito que com mais apoio institucional, a esgrima portuguesa pode dar um salto qualitativo.
- Que papel acha que clubes históricos como o Boavista devem ter no desenvolvimento da esgrima nacional?
Clubes como o Boavista têm uma responsabilidade especial. Temos visibilidade, estrutura e um nome com peso no desporto nacional. Isso dá-nos a capacidade de atrair praticantes e de influenciar positivamente o crescimento da modalidade. O nosso papel é ser um exemplo na formação, na competição e na promoção dos valores éticos do desporto. Se conseguirmos mostrar que a esgrima pode ser praticada com qualidade num clube como o Boavista, abrimos caminho para que outros sigam o mesmo percurso.
- Que mensagem gostaria de deixar aos encarregados de educação que ponderam colocar os seus filhos a praticar Esgrima no Boavista FC?
A esgrima é uma modalidade única. Trabalha o corpo e a mente, desenvolve o respeito, o raciocínio rápido, o controlo emocional e a responsabilidade. No Boavista, garantimos um ambiente seguro, motivador e formativo. Acompanhamos cada atleta com atenção, adaptando o treino às suas necessidades e ritmo. Se procuram uma atividade que desafie os seus filhos e os ajude a crescer como pessoas, então venham conhecer a nossa secção. Há espaço para todos, dos mais tímidos aos mais competitivos. Estamos cá para os ajudar a descobrir o melhor de si próprios… com o Sabre na mão e fair play no coração.
Nuno Moreira, Obrigado
Vamos Pantera!